segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

REALIDADES E CONTOS DE FADAS


Em tempos de Big Brother, da mulher morango, mulher melancia, mulher samambaia e outras degradações mediáticas que impactam diversos âmbitos de nosso cotidiano que denigram a dignidade do ser humano e especialmente à mulher, o artigo de Patrícia Xavier Quilleli Antunes com sua escrita aberta e brincalhona lembra que princípios e valores podem ser resgatados através da criatividade dos contos de fadas e histórias escutadas na infância. 
Hoje a mídia construí pseudo heróis e artistas instantâneos. Em uma crônica de Luis Fernando Veríssimo espalhada pela internet o escritor menciona que os "Brothers" são chamados pela mídia de heróis que percorrem um caminho árduo e o autor pergunta: "Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis? Caminho árduo para mim diz Verissimo é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor, quase sempre mal remunerados..
Heróis, são milhares de brasileiros que sequer têm um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir e conseguem sobreviver a isso, todo santo dia.
Heróis, são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.
Heróis, são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína, Zilda Arns).
Heróis, são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.
O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral".
A proposta de Patrícia faz sentido resgatemos uma outra forma de ensinar nossas crianças a olhar o mundo.


Reciclagem dos contos de fadas
Por Patricia Xavier Quilelli Antunes

"Quando eu era criança, minha tia Odeth e minha prima Cidinha contavam histórias para eu e minha irmã. Algumas como “A Branca de neve”, “A Bela adormecida”, “A dona Baratinha”, “Os três porquinhos”, “Chapeuzinho Vermelho”, entre muitas outras. Uma das minhas preferidas era a história da Dona Baratinha, Aquela que tinha “fita no cabelo e dinheiro na caixinha...”. Ainda me lembro perfeitamente da música que a personagem cantava enquanto varria a casa.

Quanto cresci, em muitos momentos, me vi como a Dona Baratinha, tendo que varrer a casa e juntar trocados, na tentativa de garantir um futuro melhor. Estes exemplos que me foram contados na infância de forma carinhosa e meiga, cercada de cuidados e atenção, também foram por mim vividos, já na fase adulta, de maneira não tão doce, quando descobri que Lobo mal existe - e olha que no final elas sempre diziam que ele era de mentirinha -, assim como também encontrei algumas bruxas pelo caminho. E olha que a maldade era real. Isso sem contar os Pinochios e sapos com os quais me deparei. A minha esperança mais profunda ainda é encontrar o meu verdadeiro Príncipe Encantado. Mas troco o cavalo branco por um Mercedes modelo 2011, sem nenhum problema!

Brincadeiras à parte, a crônica acima ilustra como o conto de fadas continua sendo o mesmo de sempre, só que agora é repaginado pelas mãos de excelentes escritores, que utilizam os contos infantis tradicionais como os dos Irmãos Grimm ou de Charles Perrault, modificando estrutura, termos e vocabulário, de modo que estas obras acompanhem a evolução da nossa sociedade. Agora, A “Besta” já é chamada de “Fera” e a “Roca de fiar” já encontrou alguma substituta à altura. O que permanece intacto nos contos de fadas, estejam eles na roupagem moderna ou na tradicional, é a moral da história. As mensagens passadas pelas “estorinhas” (na minha época história de mentirinha era escrita com “e”) continuam as mesmas. Passamos mensagens para as crianças através da ludicidade dos textos infantis modernos. Atualmente, alguns autores se destacam como Thalita Rebouças, por exemplo.
Os contos de fadas modernos, através das suas qualidades lúdicas, permitem que as pessoas sintam diferentes emoções, ainda na infância. Desta forma, trabalha-se o lado emocional, expressando e controlando as emoções e sentimentos de acordo com o texto.

Outro ponto muito bem trabalhado pelos contos de fadas modernos é a criatividade, pois a criança, através do texto, tem a oportunidade de viver uma nova realidade, seja ela boa ou má. Desta forma podemos desenvolver pontos importantes para nossa cultura, como Cidadania, Direitos Humanos, entre outros. Cabe ao professor trabalhar todos estes temas e emoções através do instrumento texto, de forma pedagógica e formulada sempre com foco no aluno".

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