sábado, 26 de maio de 2012

I N V E R S O S DE SYLVIA BELLO


































Quando alguém no Brasil me diz “ta sumida” (é olha lá que isso é muito frequente)  me sinto: “pega, surpresa e culpada”, não posso explicar o porque deste processo de reavaliação rápida, só sei que para mim ele é consciente e benéfico,  pelo menos no momento da cobrança. Funciona assim: num primeiro momento assumo a cobrança;  “é, sumi mesmo”, num segundo momento me auto-justifico; “Pessoas somem mesmo”. Mais tranquila e me achando justificada vou no contra ataque: “ mais como? você também sumiu”.   Ufff que alivio!!! finalmente consegui dividir minha culpa. Ao final das contas uma culpa compartida é sempre uma culpa menor. (por favor, não liga para este engano).

Estou falando aqui do ato de sumir, tão humano e tão comum porque já há um tempo que sumi deste espaço virtual, sumi por opção própria. Achei que tinha que "dar um tempo" na relação com a escrita e postergar os “deveria". Foi assim que fiquei no meu canto no intuito de rever e afinar alguns pensamentos, percepções e sentimentos. Esta pausa foi necessária para brincar, correr e deitar com minhas palavras, essas palavras retidas ou expostas em olhares, olhares traduzidos e sentidos em poemas, em crónicas e imagens.

Superada a crise de blogueira existencial, percebi que já estava na hora de sair do meu canto, de voltar, de aparecer, de compartir e retomei timidamente minha atividade nos blogs. Decidi então iniciar com meu blog em espanhol "Ser e Sentirse Extranjero (a)" ao final de contas sempre é melhor começar pelo mais fácil. Escrever em espanhol pode ser até um pouquinho mais facil, meu portunhol esta cada dia pior,  mi vida pessoal e profissional é uma verdadeira torre de babel.

Mesmo assim, ainda continuam na lista de “pendências” o blog Empreendedoras e este aqui, Outros Olhares. Tudo bem, quem mandou a ter tantos interesses. O problema não é esse. A verdadeira dificuldade aparece quando a gente se pergunta porque, por onde , como e quando aparecer depois de tanto tempo de ter sumido.
                                                                                                                   
No esforço de me entender percebo que minhas resistências surgem e se aferram  ao velho e “bom” esquema, aquele que falei antes, esse de me sentir “pega, surpresa e culpada". Sinto um  friozinho na barriga que me diz que posso estar flutuando no aveso e no reverso e decido então que esta na hora de falar para Sylvia Bello que sumi sim, que sumi por opção, por falta de tempo, por preguiça, sumi porque quis sumir. Me conforta saber que ela sabe que sumi do espaço virtual e não do seu espaço real.

Sylvia, durante esta ausência seu livro I N V E R S O S fico bem perto de mim aqui em casa, algumas vezes lendo seus poemas me senti como uma criança em uma deliciosa sorveteria que sem vergonha ou pudor ficou  saboreando e lambiscando seus poemas, suas palavras inversas e reversas.

Seria muito difícil sumir da vida desta mulher bacana, mulher sensível e mulher querida. Sylvia além de grande amiga e colega é para mim um exemplo de amor à escrita sem barreiras, sem preconceitos, uma escrita livre, sincera e profunda de sentimento espontâneo e apaixonado. Seu primeiro livro         I N V E R S O S é a prova de isto. Parabéns Sylvia Bello!!! BELLISIMOOOOOO



I N V E R S O S 

Quando eu escrevo, é preciso grafite de ponta
de faca, de papelmacio, branco feito pele pálida.
Desenho paçavras de um corpo que vai tomando forma
e de fio em fio desvenda uma silhueta misteriosa
Nesses tantos traços finos,leves,que cortam e desbotam,
vou abrindo uma alma que pode ser minha própria porta.
Pensando em versos, é que dou a luz essa nova obra.
Me reviro toda, inversos, de um lado e de outro.
Me transformo e invento naquilo que tudo quero,
sem ordem, sem preferência, de frente ou de costas,
nenhuma preocupação com estilo ou conceito de bello.
Em tão poucas linhas traçadas, me liberto das amarras
e como numa escapada da alma, fosse desenhando
o meu lado de dentro no mundo fora.


Sylvia Bello
Inversos Pág. 15


VERSO REVERSO

De dia sou lenta
De noite ninguém me aguanta

Sob o Sol, arco-íris
Sob a Lua prateada, cetim


Ao som, de todas as notas
No silencio, só a minha voz.

Na rua, muitas vidas
Em casa, vidas mútuas

Todos os nomes são bonitos
O meu simplesmente é Bello.


LIVRO   I N V E R S O S

Sylvia Bello
Editora Multifoco
Rio de Janeiro
2012


6 comentários:

  1. Minha querida Luz, quanta emoção forte me fez bater o coração ao ler sua postagem.

    É uma delícia, um privilégio ter amigas como você!
    Muito obrigada pelo carinho. . .o próximo livro você já está convidada para escrever o prefácio.
    Seu português escrito está cada vez melhor, parabéns!

    beijos, muitos beijos,
    volte, volte sempre!

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  2. Amiga, A gente oscila mesmo entre o sumir e o estar presente, um no campo da gente e outro com a gente no campo. Acho que a vida de hoje nos leva bastante a movimentos de recolhimento, olhar o umbigo e pensar por onde recomeçar. Fico muito contente de ter notícias suas e espero que me avise quando aparecer por estas nossas bandas. Beijo, Maria Helena

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  3. Que bom que você voltou.
    Sumida, humida, húmeda.

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  4. Adorei o seu texto e o desabafo sobre o sumiço, a pausa faz parte para reflexão, para aguardar a resposta do tempo, para decidir o próximo passo. bjs Luz Saudades

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  5. Sumida mais voltou legal com essa poesia inversa de Sylvia Bello..adorei!!!

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  6. Que legal gostei do teu retorno, muito bom saber que estas de volta.

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